
Entrevista feita pelo amigo Percy Rodrigues para o Viralapa News.
LUCIANO CARNEIRO OLIVEIRA BASTOS, 33 anos, nasceu na Bahia como legítimo soteropolitano, mas foi em Brasília, a partir dos 6 anos de idade, que ele estudou o ensino fundamental, segundo grau, chegando até a frequentar os primeiros períodos do curso de Direito. Sua paixão pela dança começou muito cedo e, com 15 anos, iniciou-se na dança de salão e tango. Aos 18 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde conheceu Paulo Araújo, fato marcante na vida dele, que o direcionou definitivamente para o estudo e desenvolvimento da dança do tango. Sob a orientação do mestre, aprimorou-se rapidamente e, com pouco mais de ano, em razão das viagens de Paulo Araújo ao exterior, passou a coordenar as turmas de tango em parceria com André Carvalho , Alice Vasques e Laure Quiquempois. Com o retorno de Paulo Araújo, Luciano decidiu realizar trabalho de pesquisa, e, durante 7 anos, aprimorou-se em capoeira, dança clássica, contemporânea, yoga e técnica de Alexander (terapia corporal de origem australiana).
Em 1999, Luciano Bastos conheceu Aurora Lubiz, renomada professora, bailarina e coreógrafa argentina, com quem teve aulas de tango, junto com Jorge Firpo. A partir de 2009, Luciano e Aurora formaram excepcional parceria, administrando classes de tango e fazendo apresentações no Rio de Janeiro e Buenos Aires alternadamente, inclusive atuando em cruzeiros marítimos, até os dias de hoje. Também, com Aurora, Luciano realizou diversas viagens ao exterior, visitando Itália (15 cidades), Holanda, Áustria, Canadá (por 4 vezes) e Ásia (China, Singapura e Coréia do Sul), sempre participando de festivais e workshops. Numa turnê , com duração de 3 anos, incluindo uma visita à Ásia, a dupla viajou com a orquestra “Café de Los Maestros”, constituida pelos mais famosos maestros argentinos, produtores e intérpretes do filme de mesmo nome, sucesso de bilheteria no Brasil, entre outros, Leopoldo Frederico (bandoneon), Fernando Suarez Paz (violino), Anibal Arias (guitarra) e Alberto Podestá (vocal). Em 2010, a convite do governo de Buenos Aires, Luciano e Aurora participaram do Festival e Mundial de Tango, administrando classes e realizando apresentações. No ano passado, a dupla de bailarinos participou do grandioso espetáculo “Eva Recorrido”, organizado pela diretora e bailarina Andréa Castelli, realizado no Museu Evita, em Buenos Aires. Não satisfeito com sua trajetória meteórica, Luciano Bastos ainda pretende desenvolver trabalho de resgate do glamour da dança e magia do ritmo nos salões do Rio de Janeiro, desenvolvendo fundamentos que contribuam para a essência da dança mediante o abraço e a entrega de corpos.
“Dei meus primeiros passos, pelo menos os primeiros passos dos quais me lembro, por volta dos meus10 anos, embaixo do chuveiro. É verdade, eu não cantava, dançava mesmo. No ano de 1995, descobri os ritmos da dança de salão, bem como o tango, no Centro de Dança Marcelo Amorim, em Brasília. Nesta ocasião, além de dar aulas, integrei a Companhia de Dança Marcelo Amorim. Em 1998, me mudei para o Rio de Janeiro. Tentando conciliar a Faculdade de Direito com a dança, conheci o Paulo Araújo, que me introduziu neste infinito universo do Tango e abriu as portas do Café Xangô e do Lugar Comum, ambos em Botafogo, onde estive por pouco mais de 1 ano.Eu acredito que este começo foi determinante na minha maneira de ver e sentir o tango, nas buscas e estudos que posteriormente fiz e que me tornaram o profissional que hoje sou.
Acredito que o movimento de tango no Rio passa por um delicado momento de transformação. Tive a oportunidade de percorrer o mundodançando e dando aulas de tango. Já trabalhei na Argentina, Canadá, Itália, Holanda, Áustria, China, Singapura e Coréia, e posso, desde estas minhas experiências, afirmar que precisamos resgatar aqui no Rio o prazer da dança pela dança. Mas o que é isso? Vou dar apenas um exemplo. Em muitas milongas “porteñas” da década de 30, não havia mesas e também não se vendiam bebidas nos salões da baile. As damas se sentavam ao redor do salão e os cavalheiros, que estavam de pé no centro da pista, as convidavam para dançar, e este era o principal objetivo deles. Talvez, não o único objetivo porque todos aqueles “tangueros” também queriam “levantar una mina”, ou seja, conhecer alguém e ter uma inesquecível noite de amor. Não digo com isso que devemos reproduzir este modelo e abolir a venda de bebidas nas milongas cariocas, mas sim nos inspirarmos neste exemplo e tentarmos reencontrar o prazer de ouvir um tango, de abraçar outra pessoa, fechar os olhos e sonhar. E é isto o que venho fazendo, tanto aqui no Rio como ao redor do mundo.
O tango é parte importante da minha vida, mas não a única. Nos últimos anos dei aula de capoeira infantil, estudei fotografia, canto, dança clássica e contemporânea. Neste exato momento da minha vida profissional, estou no meio de um processo de formação na Técnica de Alexander e outras terapias corporais. Acredito que tudo se complementa e essa capacidade de transitar por mundos aparentemente tão diferentes enriquece a nossa própria experiência e a dos que estão ao nosso redor.
O tango, há muito tempo, deixou de ser propriedade do “porteño”. Hoje dança-se tango no Brasil, na Islândia, em Taiwan e na Sibéria. Apesar de saber que existe algo no ar das ruas e cafés de Buenos Aires, que cheira a tango, nos olhares das pessoas no metrô e escadas rolantes, na agitação e frenesi daquela cidade grande e na paixão dessas pessoas ao sair às ruas com as suas panelas e colheres que não se encontra em outro lugar no mundo, acredito que o tango vive nos corações das pessoas que se apaixonaram por ele e mergulharam neste mar de emoções. Enquanto houver um “corazón que late”, haverá tango.
Falar sobre a dança e o tango é falar sobre a minha própria vida. A dança e o tango me deram uma identidade, uma filha, viagens, encontros, alegrias, lágrimas, muitos amigos e momentos de êxtase e agradecimento. Quando comecei a dançar, ouvi muitas vezes que eu devia seguir com a carreira de advogado, que a dança é um supérfluo na vida das pessoas e que, em um momento de dificuldade, é a primeira despesa a ser cortada. Depois de 15 anos dançando tango, posso assegurar que a dança não é o supérfluo, mas sim, um dos fatores que aumenta a nossa qualidade de vida. Quem dança é mais feliz e é justamente nos momentos de maior dificuldade que devemos nos agarrar ao que nos dá prazer e felicidade”.